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Salmo 51

Sermão preparado pelo Pastor Elissandro Rabelo

Leitura: Dia do Senhor 02;

Texto: Salmo 51

Amada igreja do Nosso Senhor Jesus Cristo

Se tem um assunto que está ausente da maioria dos púlpitos de hoje é a doutrina bíblica do pecado. Há certas igrejas que não falam sobre o pecado em seus púlpitos. Não se diz que foi o pecado que causou toda miséria que há no mundo, provoca a ira de Deus (Sodoma e Gomorra, dilúvio), levou Cristo à cruz e que tem como consequência a morte e o inferno.

Em muitas pregações não se chama mais pecadores ao arrependimento. Às vezes até se afirma que o homem tem alguma coisa boa para oferecer a Deus, que ele pode fazer algo de bom para agradar a Deus e ser salvo. Falar sobre pecado ou inferno vai assustar as pessoas e afastá-las da igreja. É melhor entreter os ouvintes e falar coisas boas que eles gostam de ouvir. Nos dias de hoje está em voga a pregação “coaching” onde você é incentivado não a reconhecer sua miséria e confessar o seu pecado, mas a se ver como uma pessoa boa e capaz de grandes coisas, que você deve confiar em si mesmo para alcançar todos os seus objetivos. Falar sobre o pecado não lhe ajudará no seu desempenho.

Mas qual é o resultado disso? Não pregar sobre a profunda miséria do homem é contribuir para a criação de uma geração fria e incrédula que não vê a seriedade e o peso do pecado, mas o vê como algo normal. E a consequência disso é que muitos estão se enganando. “Meu pecado não é coisa séria, posso viver com ele e ainda estar em paz com Deus”. Isso é ilusão e um grande erro. Precisamos pregar sobre a doutrina do pecado, não para assustar as pessoas, mas para levá-las a Cristo por meio do arrependimento. As pessoas precisam urgentemente ouvir que são pecadoras, que o pecado provoca a ira de Deus, para que elas reconheçam seus pecados e voltem-se para Deus. A pregação da doutrina do pecado tem como alvo levar o pecador a reconhecer a sua profunda miséria e sua real necessidade da graça de Deus em Cristo para ser liberto da sua miséria.

Foi assim que aconteceu com Davi quando Deus enviou o profeta Natã para repreende-lo por seu pecado. Isso levou Davi ao arrependimento e a escrever o Salmo 51. Este salmo é o registro da agonia da alma de Davi, após o seu terrível crime de adultério e assassinato. Todos vocês conhecem a história (II Sm.11 e 12). Davi viu Bate Seba tomando banho, cobiçou-a, adulterou com ela e depois tentou esconder o seu pecado. Ele usou quatro planos para encobrir o seu pecado: a) PLANO A – Dar férias a Urias, marido de Bate-Seba; b) PLANO B – Dar um banquete e bebida a Urias; c) PLANO C – Encomendar a morte do marido de Bate-Seba; d) PLANO D – Casar-se com Bate-Seba para esconder a gravidez.

Tudo parecia perfeito. Todas as provas do pecado foram aparentemente destruídas por Davi. Só uma coisa ele não contava: É que Deus estava vendo: “… porém esta coisa que Davi fez pareceu mal aos olhos do Senhor” (2 Sm.11:27). Então, Deus envia a Davi o profeta Natã com a palavra de Deus. Natã lhe conta uma parábola (ver II Samuel 12.1-4). Diante do exposto Davi lhe diz: “Este homem deve morrer” (v.5). E Natã lhe responde: “Tu és o homem” (v.7). Davi, então, é tomado por um sentimento de culpa e terror. Ele é convencido do seu pecado e, portanto, o confessa a Deus com a oração do Salmo 51.

Este Salmo é uma confissão sincera de Davi a Deus pelos graves pecados que ele cometeu (adultério e assassinato). Neste salmo, Davi reconhece que pecou contra Deus (3,4) e clama pela misericórdia de Deus para receber perdão (1,2). O que vemos aqui não é uma confissão superficial de pecado, mas uma confissão sincera de um coração profundamente arrependido e entristecido por ter pecado contra Deus.

Aquele que é nascido de novo pelo Espírito é levado a reconhecer seus pecados, chorar por eles e confessá-los a Deus. Deus requer isso de nós. Ele não quer que escondamos nossos pecados ou continuemos nele. Por isso que ele nos deu a sua lei: para revelar o pleno conhecimento do nosso pecado e nos convencer desse pecado para nos arrependermos e buscarmos perdão em Deus. A lei é como um espelho para vermos a nossa miséria, mas quem nos convence do pecado é o Espírito Santo. O Espírito nos faz cair em si e clamar pela misericórdia de Deus. Ele produz em nós uma tristeza segundo Deus. E o Senhor se agrada disso (Sl. 51.17). Ele quer ouvir nossa confissão sincera e nos conceder o seu rico perdão. Foi por isso que Deus enviou Natã a Davi para pregar-lhe a palavra e convencer-lhe do seu pecado e conduzi-lo ao arrependimento para dar-lhe perdão.

Por meio da Palavra, o Espírito Santo nos Convence do Nosso Pecado

A partir da confissão de Davi no Salmo 51, vejamos pelo menos 5 aspectos da verdadeira convicção de pecado.

1. O primeiro aspecto da convicção de pecado é reconhecer que cometemos pecado: “Porque eu conheço as minhas transgressões, e o meu pecado está sempre diante de mim” (v.3). Davi por um tempo escondeu o seu pecado. Mas isso estava arruinando a sua vida. Ele, então, olhou de uma maneira séria o que havia feito. Davi encarou o seu pecado de maneira honesta e se humilhou diante de Deus. Ao ouvir a palavra de Deus, ele deixou de esconder o seu pecado e o confessou com sinceridade: “Pequei contra o Senhor”, ele confessou (II Sm.12.13).

Cada um de nós precisa encarar o nosso pecado de frente, olhar com sinceridade para o espelho da lei de Deus, examinar o nosso coração e vendo os nossos maus caminhos, arrepender do nosso pecado. É desagradável ter de gastar um tempo consigo mesmo e perguntar: “Que tipo de vida eu tenho vivido? Quais são as coisas que ocupam a minha mente e o meu coração? Onde tenho falhado na minha vida”? Irmãos! Convencer-se do nosso pecado é uma atitude essencial na nossa vida cristã. Mas esta é uma atitude difícil que vai de encontro ao nosso orgulho. Nesse aspecto todos nós somos semelhantes a Davi. Temos a tendência natural de fazer vista grossa ao nosso pecado, achar desculpas para nossos erros, condenar os pecados dos outros e justificar os nossos. Não queremos encarar o nosso pecado de frente.

Mas eu lhe pergunto: “Você tem encarado a si mesmo? Esqueça os outros. Olhe pra si mesmo e avalie a sua vida! Você está satisfeito com sua maneira de viver? Diante da exposição da lei de Deus você tem enxergado os seus próprios pecados”? O primeiro passo para receber o perdão divino é se convencer do seu próprio pecado! Saiba que não há esperança de perdão e restauração, enquanto você não reconhecer o seu pecado. Não olhe para os outros. Não julgue nem culpe os outros. Seja honesto com você mesmo. Pare de se justificar. Faça como Davi: “Eu conheço as minhas transgressões” (v. 3). Faça como o filho pródigo: “Pai, eu pequei contra os céus e diante de Ti”. E ore como o publicano: “Ó Deus, tem misericórdia de mim, pecador”!

O mundo fará qualquer coisa para impedir que você encare a si mesmo: as pessoas estão grudadas em seus celulares, assistindo filmes e novelas, divertindo-se, ocupando a mente com muitas outras coisas porque elas não querem olhar para dentro de si mesmas e encarar sua própria culpa e pecado. O primeiro passo no caminho da restauração é olhar para si mesmo à luz da palavra de Deus e reconhecer o seu próprio pecado.

2. O segundo aspecto da convicção de pecado é reconhecer a natureza do que nós temos feito – vss. 1,2. Davi usa aqui três palavras para definir o seu ato de desobediência:

a) Transgressão: Isso significa rebelião, revolta da vontade contra a autoridade divina. Davi admite que foi rebelde. Sua própria vontade prevaleceu. Ele foi governado por um desejo voluntário de rebeldia. Sua desobediência foi um ato deliberado de desobediência, uma violação da autoridade divina. Transgredir é passar por cima da lei de Deus conscientemente. O Senhor diz em sua lei que você deve guardar o Dia dele, mas você falta cultos por motivos injustos e banais. O Senhor diz em sua lei que você não deve dizer falso testemunho contra o seu próximo, mas você solta a sua língua a falar mal de outras pessoas e fofocar. Enfim, todos nós, de uma forma ou de outra, temos transgredido a lei de Deus de forma rebelde, consciente e voluntária.

Todo homem que se arrepende, percebe que é culpado de transgressão. Ele admite com sinceridade: “Sim, eu fiz isso, embora soubesse que era errado! Eu conhecia a vontade de Deus, mas a desprezei! Eu fui um rebelde que pecou deliberadamente contra a vontade de Deus! Eu não aceitei a sua boa autoridade sobre mim e passei por cima da sua lei! Eu conheço as minhas transgressões”!

b) Iniquidade. Iniquidade é um termo que indica que algo está distorcido ou alterado, algo está fora de ordem e de padrão. Iniquidade expressa um ato perverso e impuro, o que foi evidente no caso de Davi. Ele reconhece isso ao pedir a Deus que o lave completamente da sua iniquidade (v.2). Vocês se lembram do que Davi fez. Não preciso me demorar enfatizando sua conduta distorcida e pervertida.

Temos a tendência de condenar Davi por suas perversidades, ou por outro lado, justificar os nossos erros a partir do erros de Davi: “Se Davi que era um homem segundo o coração de Deus pecou gravemente, quem sou eu para não cometer os mesmos erros”? É um equívoco pensar assim! Pode ser que você não seja culpado de homicídio ou de adultério como Davi! Mas eu peço que cada um examine o seu coração! Você não vê que muitas coisas que você tem feito são distorcidas e pervertidas? Você não percebe que há iniquidade em seus pensamentos e atos? Ciúmes, inveja, malícia, desejo de vingança, pensamentos impuros, tudo isso se constitui em perversidade aos olhos de Deus! Devemos reconhecer, portanto, que em muitas de nossas ações e pensamentos há distorções e perversidades!

c) Pecado. Pecado significa errar o alvo, o que significa que não estamos vivendo conforme deveríamos viver. Estamos fora da linha, distante do padrão que Deus estabeleceu para nós. Ao invés de seguir no caminho reto, nós nos desviamos para a direita ou para a esquerda. Isso é pecado: viver fora do padrão de Deus, revelar falta de retidão em nossos atos. Cada um de nós precisa reconhecer que somos culpados de transgressão (rebelião), iniquidade (perversão) e pecado (errar o alvo)! Reconhecer seriamente a gravidade da nossa desobediência é uma evidência de que estamos no caminho da restauração!

3. O terceiro aspecto da convicção de pecado é reconhecer que pecamos contra Deus e diante de Deus – v. 4. Davi pecou contra Bate-Seba, contra Urias, contra sua família, contra a nação de Israel, contra os homens que foram mortos na batalha, mas ele confessa: “Contra ti somente, Senhor, eu pequei”. Por que contra Deus? Porque sempre que pecamos contra alguém, estamos pecando contra Deus que criou esse alguém. Estamos ferindo alguém criado por Deus. Com o seu pecado, Davi violou a sua consciência dada por Deus, desobedeceu a Palavra de Deus, ultrajou a santidade de Deus, escarneceu do seu amor, pisou na sua graça e desprezou a sua bondade. Sempre que pecamos, nós pecamos essencialmente contra Deus.

Reconhecer que pecou contra Deus quebrantou profundamente o coração de Davi. Deus havia sido muito bondoso para com ele. Ele era simplesmente um jovem pastor de ovelhas e Deus fez dele o grande rei de Israel e o cobriu com muitas bênçãos! Você também reconhece que tem pecado contra Deus? Analise. Deus te deu o dom da vida. Ele te trouxe a este mundo e fez de você uma pessoa única. Ele tem derramado muitas bênçãos sobre você. Ele tem te dado alimentação, um lar, uma família, descanso, respiração e tudo mais. Ele te deu vida e salvação em Cristo! Ele poderia ter lhe negado tudo isso, mas desejou manifestar a sua bondade e graça para com você. Mesmo assim, ainda pecamos contra ele. Desprezamos a sua bondade, entristecemos o seu Espírito e desonramos a sua santidade!

4. O quarto aspecto da convicção de pecado é o reconhecimento de que não temos nenhuma desculpa e nenhum direito diante de Deus – v. 4b. Davi está dizendo que não tem desculpa nenhuma. Nenhuma defesa, nenhum direito a reivindicar. Davi está admitindo que o seu pecado foi resultado da sua teimosia. Reconhece que está totalmente errado. Nada tem a pleitear a seu favor. Saiba, meu caro irmão, que enquanto você tentar se justificar, você não terá dado provas de arrependimento. O arrependimento é o reconhecimento de que você não merece nada senão o juízo. O teste para provar que você está verdadeiramente arrependido é este: olhar para si mesmo, sondar o seu próprio coração e dizer: “Eu nada mereço senão o inferno, e se Deus me enviar para lá, não tenho nenhuma reclamação a fazer! Ele é justo! Eu sou um pecador corrupto e culpado”!

5. O último aspecto da convicção de pecado é reconhecer a nossa pecaminosidade – v. 5. Por pecaminosidade, quero dizer, a nossa natureza pecaminosa que herdamos de nossos primeiro pais Adão e Eva, a nossa tendência natural de odiar a Deus e ao próximo. Davi reconhece que a razão de ter pecado não é o mundo fora dele, não é a beleza do corpo de Bate-Seba, é o seu coração sujo. Não é o mundo fora de mim, é algo dentro de mim que está corrompido. Não é simplesmente uma questão do que eu faço, mas de quem eu sou. O meu maior problema sou eu mesmo. Sou corrompido. Meu coração é uma fábrica de iniquidade. É de dentro de mim que procedem os maus desígnios.

Não é o mundo sensual ao meu redor, mas o meu coração que é lascivo. Não é a maldade das pessoas, mas o meu coração perverso. Não é a injustiça social, é o meu coração avarento. Não só Davi, mas Paulo também reconheceu isso: “Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum… Miserável homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte”? (Rm.7.18,24). É como se ele dissesse: “Dentro de mim eu sou corrompido, impuro, meu coração é sujo. Não é simplesmente que eu faço as coisas que não deveria fazer, o problema está em mim mesmo, no meu coração corrompido”! Todos nós nascemos com a tendência para o mal, para fazer algo que é distorcido e pervertido! Daí a necessidade de clamarmos a Deus: “Tem misericórdia de mim, ó Deus”.

Aplicações:

1) A atitude correta para nós quando pecamos é clamar pela misericórdia de Deus: “Tem misericórdia de mim, ó Deus” (v.1). Davi estava desesperado. Ele não podia fugir dessa situação. Ele está encurralado, preso pelas cordas do seu pecado. Davi era rei, rico, poderoso, famoso, mas agora, nada lhe satisfaz. Está quebrado, doente, aflito. Está definhando. Seus ossos estão secando. Seu vigor murchando. Seu choro é abundante. Sua alma está de luto. A mão de Deus está pesando sobre ele. Ele precisa de paz, de perdão, então, ele clama: “Tem misericórdia de mim, ó Deus!”.

Talvez você diga: “Ah, mas eu não cometi adultério”. Contudo, a Bíblia diz: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração… e o teu próximo como a ti mesmo”. Você tem feito isso? É claro que não. Portanto, peça a Deus para ser misericordioso com você e perdoar o seu pecado com base na justiça e no sangue remidor de Cristo.

2. Todo pecador verdadeiramente arrependido tem anseio por Deus – vss. 1,17. A pessoa contra quem Davi pecou é Deus, mas a pessoa que ele mais deseja é Deus. Isso é o que faz diferença entre arrependimento e remorso. Quando Adão pecou, ele fugiu de Deus. Quando Judas pecou, ele abandonou a Cristo. Muitos ao pecarem deixam a Deus, a igreja, a Bíblia, a oração. Fogem de Deus. Esse é o caminho oposto do arrependimento. Mas Davi quer Deus. Ele quer se reconciliar com aquele a quem ofendeu. Ele sabe que só Deus pode restaurá-lo. Ele sabe que Deus é benigno, misericordioso e rico em perdoar.

Davi sabe que Deus não rejeita quem tem o coração quebrantado. O crente arrependido se achega a Deus e se deleita nele. É por isso que Davi pede a Deus um coração puro para agradar a Deus (v.10). Ele não só deseja abandonar seu orgulho e hipocrisia, ele não só quer deixar para trás suas transgressões, ele quer viver com Deus e para Deus em fidelidade e obediência. Isso só é possível pela graça e o poder de Deus. Daí o clamor de Davi por um coração novo e puro.

3. O pecador verdadeiramente arrependido é tomado por grande júbilo (v.8,12). Essa alegria é fruto do Espírito de Deus. É a alegria da salvação, é alegria do perdão. O pecado de Davi roubou dele temporariamente essa alegria. O pecado é um ladrão da alegria. O crente quando peca não perde a salvação, mas a alegria da salvação. Quando ele recebe o perdão de Deus, ele se alegra em Deus e na sua graça para salvá-lo.

4. O crente verdadeiramente arrependido abandona os seus pecados para viver em gratidão a Deus pelo seu perdão gracioso (Sl.51.19). O desejo de Davi, ao receber o perdão de Deus é oferecer ao Senhor sacrifícios de justiça, ou seja, viver uma vida de retidão e obediência. O perdão de Deus não é incentivo para continuarmos pecando, mas é uma manifestação da graça de Deus que nos motiva a viver uma vida santa (Pv.28.13; Jo.8.11).

5. O crente arrependido e perdoado deseja compartilhar da graça de Deus com outros pecadores que também precisam do perdão de Deus (Sl.51.13-15). Somos chamados a proclamar a justiça e a fidelidade de Deus em perdoar pecadores por meio do Seu Filho Jesus Cristo. Devemos pregar e ensinar as pessoas que elas são pecadoras e que em Cristo há perdão e vida eterna para elas, se tão somente se arrependerem e crerem nele de todo o coração. Amém!