Dia do Senhor 30

Link: Culto da Manhã / A Ceia é do Senhor e nem todos podem dela participar / Reverendo Adriano Gama – YouTube

LITURGIA

*Cântico de Entrada: Hino 43

*Invocação: Salmo 1

*Saudação: ““… graça e paz a vós outros, da parte daquele que é, que era e que há de vir, da parte dos sete Espíritos que se acham diante do seu trono e da parte de Jesus Cristo, a Fiel Testemunha, o Primogênito dos mortos e o Soberano dos reis da terra. Amém!” 

*Salmo 26b

*Oração

*Leitura da lei: Êxodo 20 – perdão: Isaías 43.25 (”Eu, eu mesmo, sou o que apago as tuas transgressões por amor de mim e dos teus pecados não me lembro.”)

*Salmo 15b

*Leitura: 1 Coríntios 5:1-13 / 1 Coríntios 11:17-34.

*Texto: DS 30.

*Ofertas

*Cântico final: Hino 51 

*Bênção final: “A graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo sejam com todos vós.” (2 Co)

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Amada congregação de nosso Senhor Jesus Cristo,

Nós vemos na pergunta 80 a diferença entre a ceia do Senhor e a missa do papa. Porém, daremos atenção às perguntas 81 e 82 que acabamos de ler. Devemos pensar em dois assuntos que nos restam tratar nelas: 1) Quem deve tomar a ceia do Senhor; 2) A responsabilidade da igreja de proteger a ceia do Senhor. 

Eu trago a pregação sob o título: A CEIA É DO SENHOR E NEM TODOS PODEM DELA PARTICIPAR.

A) Quem deve participar?

B) Quem deixa participar?

Quando estudamos a Palavra de Deus, vemos que o próprio Senhor Jesus Cristo cuidou para que a própria ceia fosse restrita e tivesse uma participação limitada aos discípulos. Conseguimos ver isso logo na primeira ceia realizada.

As Escrituras definem quem deve participar da ceia do Senhor. O catecismo ajuda, porque encontramos três marcas daqueles que devem participar da ceia do Senhor:

1) Descontentamento consigo mesmo por causa de seu estado de queda e pecados diários. Lemos na resposta 81: “Aqueles que se aborrecem/estão descontentes de si mesmos por causa dos seus pecados“. Esses crentes são aqueles descontentes e insatisfeitos com o brotar de suas idolatrias, iras, impurezas de diversos tipos, fofocas, não são contentes com sua natureza caída manifesta todos os dias, que clamam diante de Deus como fez o apóstolo Paulo em Romanos 7:24 (“Desventurado homem que sou, quem me livrará do corpo dessa morte?“). 

2) Confiança na obra salvadora de Cristo Jesus. (“mas confiam que estes lhes foram perdoados por amor de Cristo e que, também, as demais fraquezas são cobertas por seu sofrimento e sua morte“). Entenda que o crente que deve participar da ceia do Senhor não apenas se detesta pelo pecado que ainda reside nele, mas também confia de todo de coração que o perdão que Jesus Cristo conquistou para os seus eleitos também pertence a ele. Tal crente ora a Deus: “Sou miserável pecador, mas a obediência de Cristo, os sofrimentos, a morte, a ressurreição de Cristo me garantem o perdão completo de todos os meus pecados.” Assim como o apóstolo Paulo, chegam diante de Deus com a consciência da obra maravilhosa de Cristo: Romanos 7:25 e 8:1 “Graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor. De maneira que eu, de mim mesmo, com a mente, sou escravo da lei de Deus, mas, segundo a carne, da lei do pecado.” e “Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus“. 

3) Desejo de cada vez mais fortalecer a sua fé e corrigir a sua vida.e que desejam, cada vez mais, fortalecer a fé e corrigir-se na vida.” Aqui é o crente que cultiva o progressivo desejo de santificação. Tal desejo é mais do que chegar na cadeira da igreja no domingo, mais que participar de todas atividades da igreja, é mais que ter um cargo ou ofício dentro da igreja. Esse desejo por uma progressiva salvação é o desejo de cada vez mais (progressivo) ansiar por ter sua fé fortalecida em Cristo: fortalecida pela pregação do evangelho, fortalecida pela participação na ceia do Senhor, fortalecida pela comunhão dos santos, fortalecida por servir em amor aos seus irmãos, é o desejo progressivo de conhecermos e obedecermos à lei do Senhor, lutar e abandonar nossas práticas pecaminosas que nos assediam diariamente, assaltando nossas mentes, praticadas por nossa fraqueza ou relaxamento espiritual. 

Quando pensamos nessa terceira marca, lembramos da instrução do apóstolo Paulo em Filipenses 3:12-16 – “Não que eu o tenha já recebido ou tenha já obtido a perfeição; mas prossigo para conquistar aquilo para o que também fui conquistado por Cristo Jesus. Irmãos, quanto a mim, não julgo havê-lo alcançado; mas uma coisa faço: esquecendo-me das coisas que para trás ficam e avançando para as que diante de mim estão, prossigo para o alvo, para o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus. Todos, pois, que somos perfeitos, tenhamos este sentimento; e, se, porventura, pensais doutro modo, também isto Deus vos esclarecerá. Todavia, andemos de acordo com o que já alcançamos.

Em resumo, são essas três as marcas daqueles que devem participar da ceia. (1) Descontentamento consigo mesmo por causa de seu estado de queda e pecados diários – isto é, um coração descontente com o pecado. (2) Confiança na obra salvadora de Cristo Jesus – isto é, um coração crente no evangelho. (3) Desejo cada vez maior de fortalecer a sua fé e corrigir a sua vida – isto é, um coração piedoso.

Você deve estar pensando em como chegamos nessas três marcas. Nós pensamos nessas três marcas quando pensamos no inverso daqueles que não devem participar da ceia do Senhor. Quem são esses? 

Podemos citar três tipos de pessoas que não devem participar da ceia.

1) Hipócritas.

2) Incrédulos.

3) Ímpios.

Esses três tipos são apresentados em diversos trechos das Escrituras, mas vamos citar apenas dois deles. Um deles é Mateus 23:27, onde Jesus falando à igreja, diz que o hipócrita é quem finge ser crente a fim de obter boa fama diante dos homens. A conduta do hipócrita é apenas uma máscara, uma fantasia, um disfarce; mas o coração de um hipócrita não se incomoda com seus pecados, ele ama os seus pecados, não quer saber da obra de Jesus Cristo e nem viver em santidade e piedade. É como Jesus mesmo falou, um cemitério bem bonito, feito de modo artesanal, mármore, bonito e até bem pintado; quando você olha para aqueles túmulos que expõem coisas belas fora dele, escondem o que há dentro: restos mortais, carniça e podridão. O hipócrita é como um ator de filme, ele quer fama e louvor dos homens, ganhando destaque e poder por uma boa encenação. Esse é o primeiro tipo de membro da igreja que não deve participar da ceia.

O segundo tipo são os incrédulos. Quem não confia no evangelho de Cristo, é descrente. Existem pessoas dentro da igreja que podem ter feito a profissão de fé que fez, mas que não confia, é um descrente. Isso pode acontecer. Pode acontecer com os filhos da aliança, que o fato de serem batizados não implica dizer que são regenerados, eles precisam crer no evangelho. Eles são santos e separados, tem as promessas da aliança do Senhor (Deus os adota em graça, o sangue de Cristo purifica o pecado deles assim como dos pais, promessa do Espírito Santo), mas eles precisam crer no evangelho para serem salvos. Na igreja também há descrentes que apenas professam a fé só de boca. Jesus falou várias vezes aos fariseus que, além de hipócritas, eram incrédulos. 

Terceiro tipo de membro da igreja nominal é o ímpio. É quem não lamenta por seus pecados. A palavra é impiedade, não há temor de Deus em seu coração, ele ama transgredir a lei, não se arrepende de seus pecados, que são notórios até na comunidade da fé. Não se arrepende das suas fofocas, não se arrepende das suas amarguras, não se arrepende das suas impurezas, não se arrepende do seu egoísmo, não se arrepende de sempre dividir a igreja, não se arrepende das suas raivas e iras. Ele sempre acha que está bem, o seu pecado, isto é o ímpio. Veja que lemos o Salmo 1 na liturgia e depois cantamos o salmo 24 e 26, esses salmos falam de pessoas ímpias dentro da igreja, em que ele dizia: “Não vou me sentar com eles, com essa sússia de homens maus” e “ímpios na congregação que não permanecerão nela“. Então, dentro da igreja existem pessoas ímpias.

Você deve estar dizendo: “Mas pastor, aqui na igreja existe isso?” Você está numa igreja visível ou não? Está… na igreja visível, que está nessa terra. Sempre esses três tipos de pessoas existirão nelas: hipócrita, incrédulo, ímpio. Os textos que nós lemos em 1 Coríntios nos convencem dessa verdade. O texto que nos apresenta a instituição da ceia, com a traição de Judas, nos apresenta essa verdade. Judas participou da primeira ceia e ele era um hipócrita.

Veja que na igreja de Corinto havia pessoas ignorantes que não conseguiam discernir o evangelho nem a ceia do Senhor, impiedade que nem no mundo estava acontecendo – um jovem que possuía sexualmente sua madrasta – uma abominação até para os próprios pagãos. Haviam pessoas partidárias, dividindo o povo de Deus com intrigas, descuido dos mais necessitados, egoísmo do tamanho de um trem. Essas pessoas fizeram profissão de fé, talvez até mesmo ao ofício. Os hipócritas, incrédulos e ímpios são uma realidade da igreja visível. Veja o finalzinho da resposta 81: “Mas os pecadores impenitentes e os hipócritas comem e bebem para sua própria condenação” e na resposta 82 reconhecemos que dentro da igreja de Cristo podem haver pessoas com confissão e vida que se demonstram incrédulas e ímpias. Por causa disso, para proteger a aliança e o sacramento, tais pessoas não podem se aproximar e participar da ceia do Senhor.

A Palavra de Deus está sendo falada para nós aqui, para todos os tipos de crentes que existem dentro da igreja visível. E, desde o tempo da Reforma, tomando como base as passagens que lemos, as Igrejas Reformadas confeccionaram uma forma para administração do sacramento da ceia do Senhor, e toda vez essa forma é lida para todos os membros. Essa forma tem sugerido aos membros da igreja um exame sincero, que consiste em três partes:

Em primeiro lugar, cada pessoa deve ter consciência dos seus pecados e da maldição de Deus para se  detestar e se humilhar perante Deus, porque a ira dele contra o pecado é muito grande. O pecado não poderia ficar impune, mas Deus o puniu no Seu filho amado, Jesus Cristo, por meio de sua vergonhosa morte de cruz. – O crente descontente com seus pecados.

Em segundo lugar, cada pessoa deve examinar seu coração para determinar se realmente confia na promessa fiel de Deus. A promessa é esta: que todos os pecados dessa pessoa só são perdoados por causa do sofrimento e morte de Jesus Cristo, e que a perfeita retidão de Cristo é gratuitamente concedida em seu favor, como se a pessoa mesma tivesse cumprido toda a justiça. – o coração crente no evangelho.

Em terceiro lugar, cada pessoa deve determinar se tem a intenção sincera de mostrar a Deus a sua gratidão por uma vida consagrada a Ele. Do mesmo modo, deve mostrar que está determinado a amar o próximo e a deixar toda a hipocrisia, inveja, inimizade e raiva. – um coração piedoso, um progressivo desejo de santificação, de abominação ao pecado e abandono do mesmo.

Esse autoexame todos temos que fazer, não só antes de receber os elementos, mas todos os dias de nossas vidas, mas especialmente no dia em que o sacramento será ministrado à você. 

Duas aplicações do primeiro ponto:

(1) Quero falar aos hipócritas, incrédulos e ímpios e que podem estar ouvindo. Se em nosso meio há esses três tipos de pessoas. Quero te dizer: Abstenha-se da ceia do Senhor, não tome dela. Especialmente para os hipócritas, porque se camuflam, apenas Deus os vê. Arrependam-se de tais pecados para que não tomem da ceia do Senhor, não para sua condenação. O apóstolo do Senhor disse que quem tomar a ceia do Senhor indignamente será réu (culpado) do corpo e do sangue do Senhor! (1 Coríntios 11:27 e 29 – Por isso, aquele que comer o pão ou beber o cálice do Senhor, indignamente, será réu do corpo e do sangue do Senhor… pois quem come e bebe sem discernir o corpo, come e bebe juízo para si.)

Você deve estar pensando o que é comer do pão e beber indignamente… tem crentes que confundem e acha que isso é perfeição. Não é! Se não, ninguém, nem o pastor poderia comer; somos todos pecadores miseráveis igual a qualquer um. 

Pego emprestado as palavras de um velho professor, João Calvino, “é desonrar o uso puro e legítimo pelo nosso próprio uso“, ou seja, desconsiderar o que é o santo sacramento, não haver reverência em nosso íntimo, o pão significativo que recebe o nome do próprio corpo partido do Senhor. Desconsiderar a ceia como um sinal e selo santo da obra redentora de Cristo para nossa salvação, algo que foi dado para fortalecer a nossa fé, participar do próprio Cristo. Quero dizer: não tome a ceia do Senhor, enquanto se deleita no sabor da hipocrisia, incredulidade e demais impiedades; não tome! Não tome morte e juízo ao provar da árvore da vida representada na ceia do Senhor. Não faça isso!

Por isso a exortação cheia de verdade e amor do apóstolo Paulo, onde ele diz no verso 30 para criar temor santo: “Eis a razão/motivo por que há entre vós muitos fracos e doentes e não poucos que dormem/morreram.” Ele fala também que isso é a disciplina do Senhor no verso 32. Aqueles que deveriam fazer o autoexame, não faziam e participavam. 

A segunda aplicação é: Pela graça de Deus você tem as três marcas citadas. Se pela graça de Deus você é um sincero discípulo de Cristo, manifestando as marcas que citamos, quero dizer que a ceia é para você. Muitas vezes tratamos de consciências de crentes que brigaram com o marido e com a esposa antes de virem para a ceia. E chegam com a “cabeça desse tamanho“, fui desobediente, fui rude, porque eu fiz isso; ou seja, um pecado/fraqueza pontual, e acham que isso é algo que o tornou indigno de participar. O tomar indignamente é uma conduta na vida, um sentimento perene. Então, aqueles que são crentes, pela graça de Deus, não apenas visíveis, que em sua vida e conduta mostram essas três marcas (descontente com o pecado, coração crente no evangelho, coração piedoso diante de Deus) se aproxime da mesa e tome do sacramento com paz de espírito. Tome, é para você! Jesus alimentará a sua alma faminta e sedenta por meio desse sacramento que você tomará em fé. O Espírito Santo usará o sacramento não para sua condenação, mas para fortalecer a fé que Ele te deu pela pregação do evangelho, usará para unir mais e mais com Cristo, usará para que esteja mais e mais unido com seus irmãos.

Aqui encerro o primeiro ponto que diz quem deve participar da ceia do Senhor.

B) Quem deve deixar participar?

A responsabilidade do autoexame é do crente em particular. “Examine-se” fala do dever particular de autoexame. Mas a responsabilidade de participar da ceia é da igreja, é a igreja que recebeu de Cristo as chaves do Reino de Deus. Não foram crentes individuais que receberam, mas a igreja. E é via presbíteros da igreja, que a igreja, como Corpo de Cristo, exerce/executa a responsabilidade do uso das chaves, e dentro desse uso está a responsabilidade de quem deve ou não participar da ceia.

Essa responsabilidade estava na exortação de Paulo à própria igreja de Corinto. Ela foi exortada a não ter comunhão/não se associar e até expulsar de seu meio quem se diz irmão, mas vive em pecado contra Deus.

O apóstolo diz: 1 Co 5:11 “Mas, agora, vos escrevo que não vos associeis com alguém que, dizendo-se irmão, for impuro, ou avarento, ou idólatra, ou maldizente, ou beberrão, ou roubador; com esse tal, nem ainda comais.

Você deve estar pensando: “o que significa esse ‘nem ainda comais’? Quando é esse comer?” Pode se referir a uma das seguintes situações, vou citar três que podem se encaixar:

(1) Receber na mesa de sua própria casa.

(2) Receber na festa ágape – festa do amor/fraternal que corria logo após o culto dominical, sabe aquele tipo de almoço comunitário que faremos nos domingos de santa ceia? Você verá isso em Judas 1.12 e 2 Pedro 2. 

(3) Ou no receber na própria ceia do Senhor.

Agora, o mais provável é que o apóstolo está falando da festa ágape, do comer naquela festa. Precisamos entender que, no tempo em que o apóstolo escreveu isso, a ceia do Senhor acontecia dentro da festa ágape. Não é como nós hoje que fazemos no culto. No tempo do apóstolo, a ceia ocorria dentro da festa ágape. Sendo assim, a ceia do Senhor era um elemento na festa ágape, logo, por consequência lógica, a exortação do apóstolo Paulo nos faz pensar o seguinte:

(1) O participar da ceia do Senhor não depende de quem diz ser cristão e deseja participar da ceia.Eu quero participar, sou cristão“. O dito irmão poderia desejar estar na festa ágape/na ceia do Senhor, mas a exortação e mandamento do apóstolo é: “nem ainda comais com ele”. Dessa forma, não depende da pessoa se considerar cristã e nem do desejo dela de participar da ceia com a igreja. A igreja é quem diz quem deve ou não participar, pois a exortação é clara: “nem sequer comais”.

(2) Por consequência do primeiro ponto, o autoexame do crente em individual não é o único requisito para participar da ceia do Senhor. Não é somente dizer “examine-se o homem a si mesmo“, e deixar por conta do indivíduo pensar e vir participar da ceia. Também cabe à igreja julgar. Ela tem a responsabilidade de usar as chaves do Reino e ver quem tem condições de participar ou não da ceia do Senhor. Isso o apóstolo já fala no verso 12: “Pois com que direito haveria eu de julgar os de fora? Não julgais vós (a igreja) os de dentro?” Ou seja, vocês não julgam nem os seus próprios membros? “Os de fora, porém, Deus os julgará“. A igreja tem a responsabilidade de julgar quem deve ou não comer com ela. 

Meus irmãos, sem julgamento a um pecado, como a igreja saberá se um participante tem a capacidade de fazer um autoexame necessário para participação da ceia sem profanar a ceia do Senhor? Como?

Vamos pensar num fato real, aquele jovem incestuoso. Ele possuía a madrasta, e estava tudo bem para ele. Ele tinha a madrasta como mulher dele, e a igreja fazia vista grossa. Está no meio da sala, mas não vejo nada. Veja também a falta de entendimento dos crentes que participavam da ceia – faltava amor fraternal, comunhão sincera neles, estava abusando da ceia do Senhor por meio das divisões, invejas, inimizades, raivas, desprezo aos mais pobres. Essa era ou não a situação que Paulo fala no capítulo 11? Isso na vida pública, imaginem nas casas deles! Porque quando os problemas explodem dentro da igreja, imagine a condição do lar desses crentes… é bronca! Para os crentes, estava tudo bem. Iam para a festa ágape, participariam da ceia, ficariam bêbados, confusão e briga, e para eles estava tudo okay. Todas as passagens que lemos mostram que a igreja foi repreendida por não exercer a disciplina e por deixar a profanação do sacramento porque comia com pessoas que não deveriam comer ou comiam como não deveriam comer. 

Logo, a responsabilidade de julgamento pela igreja se reforça. E mais ainda com 1 Co 11:31-32 “Porque, se nos julgássemos a nós mesmos (ativos no julgar, a igreja se julgando, não é mais exortação do indivíduo, mas em nós nos julgarmos), não seríamos julgados. Mas, quando julgados (somos passivos), somos disciplinados pelo Senhor, para não sermos condenados com o mundo.

O autoexame pode e deve ser individual, não há contradição com o texto quando o apóstolo chama ao autoexame e quando fala para a igreja se julgar para evitar que o zelo do Senhor seja despertado e Ele venha com juízo sobre a congregação: juízo sobre os ímpios, incrédulos e hipócritas; e sobre a igreja que já exerce a disciplina.

Este autojulgamento coletivo da igreja está sendo ressaltado ao mesmo tempo e no mesmo capítulo em que se ressalta a responsabilidade individual dos crentes.

Não havendo o julgar da igreja pela disciplina, Deus mesmo julgará a igreja por amor. Quando Deus nos disciplina, Ele faz com amor, como um Pai. Por isso, Paulo diz que quando somos disciplinados por Deus não é para sermos condenados/perdidos como o mundo, Deus está amando Sua igreja. Por isso, Sua misericórdia é imensa, pois quando a igreja falha, Deus age. 

Então, veja irmãos que o ensino da ceia supervisionada é coerente ao ensino que temos em 1 Coríntios 5 e 11. Quero encerrar essa parte com três aplicações:

(1) Não tenha constrangimento em afirmar que em nossa congregação nós praticamos uma ceia supervisionada. Porque hoje o liberalismo e a libertinagem são muito grandes. Existem denominações que já perderam os princípios que vimos em 1 Coríntios 5 e 11. Se brincar, qualquer pessoa que chegue nela, que somente ter ouvido: “Olhe, cuidado, se examine”. A pessoa ignorante, ímpia e sem conhecimento da Palavra pode chegar e participar da ceia, porque é aberta. Isso é hoje… por isso digo aos reformados dessa igreja, digo: não fique constrangido. Entenda a base de sua fé e prática. Nós entendemos que a prática de supervisionar a ceia está prevista quando Paulo diz “nem ainda comais“. Cabe ao membro se julgar, mas também à igreja julgar.

(2) Não se sinta sozinho nessa prática da ceia supervisionada. Quando você fala com alguém que só aceitamos na ceia aqueles membros em plena comunhão com a própria igreja ou que tenham carta de supervisão da igreja dela. As pessoas até acham que é uma seita. Será que somos? 

Com certeza não, estamos bem acompanhados. Se você estudar um pouquinho da história da igreja, você verá que a igreja primitiva era tão zelosa com a proteção da ceia do Senhor, que praticou uma separação radical no momento da ação de graças, chegando ao ponto de nem permitir a presença dos catecúmenos (membros da classe de discipulado) na distribuição do pão e do vinho na ceia. Quando a igreja ia ministrar a ceia, os pastor pedia que os catecúmenos saíssem. Isso diante da reverência que eles tinham ao sacramento. Isso era na igreja primitiva, leia os pais da igreja e você verá relatos disso. 

A igreja cristã antes da reforma, e mesmo com toda a desfiguração da ceia do Senhor com a missa do papa, a igreja permitia apenas a participação do pão e vinho de membros que primeiro fossem ao confessionário, antes da reforma. Você tinha que ir até o pastor (na época chamado de padre), e você buscava dele orientação pastoral; porque o confessionário não era somente para receber declaração de perdão, mas era o gabinete/visitação pastoral na época. E para que o crente participasse da ceia, antes da reforma, ele teria que fazer a confissão, onde o pastor olharia para ele e diria: “você pode ou não participar da ceia”. 

Também estamos bem acompanhados com a igreja quando acontece a reforma. Os regimentos das igrejas que vieram da reforma, se não todos, mas nas principais igrejas dessa época, eles definiram que todos os crentes deveriam ser visitados pelos presbíteros antes da ceia, para ver como estavam suas vidas familiares, conduta e fé. Um membro não poderia participar da ceia se não fosse visitado.

Até pouco tempo atrás a ceia era celebrada apenas quatro vezes no ano, para dar tempo dos presbíteros visitarem cada casa e dizer se o membro poderia ou não participar.

Agora, vou falar da posição mais posterior da reforma, a assembleia de Westminster. Vou falar porque mesmo sendo irmãos de mesma fé, por vezes nos chamam de seita porque “fechamos a ceia que é do Senhor”. Por isso, daremos atenção àquilo que a assembleia de westminster (puritanos, presbiterianos e anglicanos) decidiu acerca da necessidade de uma ceia supervisionada. No diretório de culto e catecismo maior, é ensinado que nem todos aqueles que professam a fé cristã e que desejam participar da ceia poderão participar dela. O diretório de culto diz: “Os desconhecedores (ignorantes) e os escandalosos não estão aptos para receber o sacramento da ceia do Senhor” Isso era lido antes da ceia do Senhor. E o catecismo maior (p. 173) diz: “Alguém que professa a fé e deseja participar da ceia do Senhor pode ser excluído dela? Os que forem achados ignorantes ou escandalosos, não obstante a sua profissão de fé e o desejo de participar da ceia do Senhor, podem e devem ser excluídos desse sacramento pelo poder que Cristo legou a sua igreja até que recebam instrução e manifestem mudança.

Então veja, tanto o diretório de culto quanto o catecismo maior de Westminster, dizem que pessoas que professam a fé, mas não vivem conforme a Palavra de Deus devem ser afastadas. Isto é a confissão de fé presbiteriana (igreja livre da escócia, presbiterianos americanos e brasileiros, reformados presbiterianos; e que nós somos irmãos em fé deles), nós não somos seita por fecharmos a nossa ceia ou supervisionamos a nossa ceia. Não aceite isso! Nossos símbolos de fé são uníssonos com os símbolos de fé presbiterianos, prática é outra história. Quem não pratica uma ceia supervisionada, não está praticando aquilo que a doutrina bíblica de Westminster diz.

Vou te perguntar para esclarecer o ponto: “Sem supervisão teria como saber se um participante da ceia é ignorante. Tem como saber?” Como você vai saber que alguém é ignorante da fé se você não supervisiona ela. Sem supervisão tem como você instruir um ignorante? Tem como você explicar o evangelho a um ignorante? Sem supervisão, tem como saber se um participante da ceia do Senhor vive em escândalo ou pecado? Meus irmãos, porque na igreja é muito fácil fazermos de conta que somos crentes, mas é em casa que vemos se alguém é crente de verdade. Se realmente vivo aquilo que professo. Se sou um bom marido à minha esposa, se minha esposa é submissa, se eu e minha esposa são bons pais, se nossos filhos são fiéis, se me alimento da Palavra e da oração, se eu vivo submerso em pecado, se meu deus é o dinheiro. Isso é por meio de supervisão. Como a igreja pode saber se eu vivo em escândalo ou não sem supervisão? Como sem supervisão eu corrijo os escandalosos para poder abrir a ceia do Senhor para eles? Não parece uma coisa sem nexo?

Aqui na igreja temos homens e mulheres fiéis, podemos ver que são crentes com as marcas de quem pode participar da ceia, mas pelo fato de não poderem fazer a confissão de fé, os presbíteros dizem “Ainda não estão prontos“. Nós temos filhos fiéis, nós conhecemos nossos filhos fiéis, mas pelo fato de não terem feito profissão de fé, nós dizemos para eles: “Não participe da ceia“. Daí chega uma pessoa que nem conhecemos, sem carta de testemunho, nós nunca o vimos; e chegamos como pastor (confessando a pergunta e resposta 173 do CM de Westminster) e dizemos: “você faz parte de uma igreja protestante/evangélica, vêm e participe aqui“. 

Não somos nós, reformados, que temos que ficar dando explicação a defensores de ser aberta e sem supervisão. Eu quero dizer: você não está só! Você não é marginal da fé, quando você está numa igreja onde a ceia é supervisionada, você é coerente com a fé bíblica. E é lamentável que nem todos os reformados no Brasil entendam seus próprios símbolos de fé e contextos. 

Quero dizer a vocês: Quando nós estamos praticando a ceia supervisionada, nós estamos bem acompanhados, porque a proteção e supervisão da ceia é uma prática milenar da igreja de Cristo.

(3) A ceia supervisionada faz você provar as chaves do Reino de Deus. A igreja recebeu as chaves do Reino que dão acesso à mesa do banquete do Rei. Se, por mandamento bíblico, o guardar da ceia deve ser criterioso, é porque a Bíblia deixa bem claro sobre ser criterioso e quem eu devo deixar participar na mesa da minha casa. Então, na ceia que é do Senhor, a igreja seria menos criteriosa? Deixando qualquer pessoa, sem supervisão, tomar da mesa e ceia do Senhor? Amados irmãos, quando os presbíteros da igreja avisam na forma dizendo que somente membros da congregação ou membros vindos de igrejas irmãs com atestado de doutrina e vida, todos vocês estão vendo o uso zeloso das chaves do Reino de Deus.

Quantos crentes são capazes de fazer autoexame? Só supervisão diz isso. Isso é parte das chaves do Reino. Quantos se dizem crentes, mas são ignorantes do evangelho da graça de Deus? Os presbíteros devem ver, isso é exercício das chaves do Reino. Quantos se dizem crentes e vivem no pecado como algo normal e aceitável – individual, familiar ou na congregação? Veja os escândalos nas igrejas. Proteger é exercer as chaves do Reino.  

Concluindo, nós somos instruídos pelo ensino da Palavra que a ceia é do Senhor e nem todos podem participar dela. Devemos ensinar isso com zelo e amor, estimulando o autoexame e orar para que os nossos oficiais se mantenham firmes no proteger da ceia do Senhor para o bem da congregação, devemos falar o evangelho à todos para que os hipócritas se arrependam, os ignorantes recebam do evangelho e tomem com consciência o sacramento, para aqueles que vivem em escândalos abandonem a sua impiedade e sejam novamente trazidos ao banquete do Rei. Que Deus nos abençoe e guarde, e Deus possa colocar essa Palavra em nós para vivê-la em humildade.

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