Pesquisar

Mateus 16.21-27

Sermão preparado pelo Pr. Elton Silva

Leitura: Mateus 16.13-28

Texto: Mateus 16.21-27

Amados irmãos no Senhor Jesus Cristo,

O que é ser um cristão? Pergunto meus irmãos, por que em nossos dias este é um conceito que tem sido bastante reduzido. Alguns acham que ser cristão é possuir uma membresia em uma igreja; outros, que basta ter ou afirmar “certo” credo (até ortodoxo); ainda outros, alguém que adota certo modo de conduta padrão conforme exigido em algumas ditas “igrejas”. Todavia, ainda que haja verdade nessas afirmações, elas, por si só, reduzem o que realmente identifica o que é ser um cristão.

A consequência disso é que dizer-se cristão em nossos dias tornou-se uma coisa natural. Até pessoas que quase nunca vão a uma igreja, nem se reúnem para adorar, quando questionadas sobre sua religião, se dizem cristãs. É uma afirmação sem consequências… Realidade bem diferente da época quando o evangelho de Mateus foi escrito e algumas décadas depois – onde professar a fé cristã era estar sujeito a perder sua estabilidade, segurança, liberdade e até a própria vida. Os “ditos” cristãos de hoje que procura a religião em busca de uma vida de “sucesso”, “prosperidade”, “vantagens” e até “conceito social”, precisa aprender o significado de seguir a Cristo; precisa aprender que o cristianismo não promete ou se compromete em fornecer essa “vida regalada” aos seus adeptos, nesta terra. Mas, o contrário disso é que é verdade. O verdadeiro cristianismo mantem o ensino de seu mestre que disse que neste mundo teríamos aflição; que a vida seria caracterizada por uma contínua batalha contra nós mesmo, o mundo e o diabo, para, somente no final, recebermos o prêmio indescritível prometido a quem recebeu essa vocação.

E é essa verdade que vemos em nosso texto esta tarde. Então, vamos observa-lo e receber a instrução do nosso Senhor para vivermos bem orientados em nossos curtos dias nesta vida. Eu resumo a pregação de hoje no seguinte tema: O CAMINHO DA GLÓRIA É O CAMINHO DA CRUZ.

Veremos isso observando:

  1. O contexto_ A PREDIÇÃO DE SUA PAIXÃO: sofrimento, morte e ressurreição;
  2. O Chamado_ A EXIGÊNCIA DE IMITAÇÃO: tomar a cruz e segui-Lo;
  3. A motivação_ A RECOMPENSA DA CONSUMAÇÃO: Ele virá em glória para retribuir a todos.

1. O CONTEXTO_A PREDIÇÃO DE SUA PAIXÃO:sofrimento, morte e ressurreição:

          Meus irmãos, a verdade sobre o que é ser um verdadeiro cristão neste mundo pode ser muito bem entendida quando compreendemos essa passagem, pois ela, embora dita/dirigida aos seus discípulos, alcança todos nós. E, sendo assim aplicada, nos ensina sobre o que cada cristão em sua peregrinação nesta terra deve fazer e focar. Então vamos ao texto.

          Em primeiro lugar precisamos entender o cenário em que esse fato se deu. Veja como começamos o v.21: “desde esse tempo” (lit. “desde então”). Essa é a forma comum para se indicar que o que está sendo escrito aqui está ligado com algo que o antecedeu. E, quando lembramos a leitura que fazemos, logo entendemos que o que temos aqui é a confissão feita por Pedro de que Jesus é “o Cristo, o filho do Deus vivo” (v.16). Naquela ocasião Jesus aceitou a confissão feita por Pedro. Ele reconheceu que ela procedia do Pai. De modo que, ao se dirige a Pedro, chamando-o de pedra/rocha e afirmando que sobre aquela confissão estaria fundamentada Sua igreja, Ele não deixa sombra de dúvidas que ele era o esperado Messias (Cristo), o Redentor de Israel. Mas, uma vez que nosso Senhor se identificou claramente como o esperado Messias, novas verdades deveriam ser compreendidas pelos discípulos. E são exatamente essas novas verdades que desde aquele dia ele começou a ensinar (e são essas verdades que nos mostram o caminho que deve ser percorrido por todos nós).

          E que verdades são essas? Vamos ler novamente o v.21. “Desde esse tempo começou Jesus Cristo a mostrar a seus discípulos que lhe era necessário seguir para Jerusalém e sofrer muitas coisas dos anciões, dos principais sacerdotes e dos escribas, ser morto e ressuscitado no terceiro dia”. Essa é uma revelação impactante, no mínimo, conflitante para os discípulos! Jesus lhes diz que Ele, como o Messias, deveria sofrer e morrer! Ele já havia falado disso anteriormente, mas por meio de símbolo e de modo velado (9.15; 12.40), mas agora ele fala clara e abertamente. O impacto é porque essa não era a ideia que os discípulos tinham acerca do Messias. Eles não concebiam a ideia de um Messias sofredor. Eles não compreendiam que aquelas profecias sobre os sofrimentos do Messias (como p.e., Isaías 53) deveriam se cumprir literalmente; nem percebiam que todos os sacrifícios da lei de Moisés apontavam para o sacrifício que esse Messias deveria fazer, como o verdadeiro cordeiro de Deus. Em suas convicções estava apenas um Messias real, da linhagem de Davi que poria fim a opressão dos inimigos – essa verdade estava tão arraigada em suas mentes que mesmo após a ressurreição, quando o Senhor estava prestes a voltar para o Pai, eles ainda o questionaram: “Senhor, será este o tempo que restares o reino a Israel?” (At 1.6). Você entende, irmão, o porquê esse foi um anuncio difícil pra os discípulos? Eles não tinham o conhecimento como nós temos hoje. Eles só viam a coroa. E eles focaram tanto na coroa que não entenderam a necessidade da Cruz.

          Mas, você entende. Você conhece a Bíblia e entende que a declaração de Jesus é a afirmação de que Ele, como o verdadeiro Profeta, está predizendo Sua própria morte como o meio de satisfazer as exigências da lei, a penalidade requerida pelos pecados do Seu povo (1.21).  Você também entende que aqui temos o nosso Senhor revelando-se como o misericordioso Sumo-sacerdote celestial, que se prepara para oferecer sua vida a fim de “tirar os pecados do mundo” (Jo 1.29).  E, por tudo isso vir da boca dele, você pode entender que ele, como Rei está governando a própria realidade que experimentará. Como aquele que tem o completo controle de cada situação, Ele pôde dizer – e de modo detalhado – que o plano delineado desde antes da fundação do mundo estava se concretizando.

          Perceba que Ele diz: “é necessário”! Isso é uma demonstração de Sua submissão voluntária à vontade do Pai, pois esse era Seu plano. E, seguindo esses passos obedientes, ele segue a Jerusalém, a cidade conhecida como a “cidade do Grande Rei” ou como a “cidade santa” (5.35; 4.5), para ali sofrer a culminação dos seus sofrimentos nas mãos dos líderes religiosos (anciões, chefes dos sacerdotes e mestres da lei) – o Sinédrio. Não é irônico?! A cidade que deveria recebê-lo como o Rei-Divino tão esperado seria o palco de Seus sofrimentos e morte – e seus líderes, os feitores.

Nessa ocasião 0 Senhor não dá muitos detalhes do que iria sofrer ali. Em Mateus 20.18-19, ele diz mais. Ele diz: “Eis que subimos para Jerusalém, e o Filho do homem será entregue aos principais sacerdotes e aos escribas. Eles o condenarão à morte. E o entregarão aos gentios para ser escarnecido, açoitado e crucificado”. Mas aqui o Senhor decidiu poupa-los desses detalhes. Eles não suportariam ouvir mais […]. É verdade que ele afirmou que seria “ressuscitado ao terceiro dia” – isso fala da Sua exaltação no final (da glória que se seguiria). Mas, dificilmente os discípulos entenderam plenamente o que isso significava naquela ocasião. Eles estavam tão atônitos/impactados com a revelação do sofrimento e morte de seu Mestre que atentar para essa afirmação não cabia em suas mentes. E uma prova disso, vemos no v.22, pela reação de Pedro. O texto diz que “Pedro, chamando-o à parte, começou a reprova-lo, dizendo: ‘Tem misericórdia de ti, Senhor; isso de modo algum te acontecerá’”.

          Podemos até imaginar Pedro se aproximando do Senhor e, talvez, fazendo um sinal para chama-lo à parte, e então começando a repreendê-lo por aquela afirmação tão pesada. Só pra você entender o que Pedro fez, a palavra “reprova-lo” que é usada aqui é a mesma que o Senhor usa para repreender o vento e o mar (8.26) ou para repreender um demônio (17.18), ou seja, irmãos, Pedro tem a intenção de advertir e/ou proibir estritamente Jesus de falar aquilo de si mesmo. “Que Deus te seja misericordioso, porque isso não deve acontecer e não acontecerá a ti” – seria mais ou menos isso que Pedro estava tentando transmitir ao Senhor com sua reprovação. No original é uma expressão bem enfática. Simplesmente não cabia em sua mentalidade a ideia de um Messias (Cristo) – como ele havia a tão pouco afirmado Jesus ser – sofrer e morrer; daí ele acha que conhece mais a vontade de Deus que o próprio Messias.

          O Senhor reage a esta fase precipitada de Pedro. Ele discerne no conselho de Pedro uma tentação da parte de Satanás. Ele reconhece que Satanás está usando Pedro como um “agente”, numa tentativa de seduzi-lo e fazê-lo tentar obter a coroa sem ter que suportar a cruz – exatamente como fez em 4.8-9 quando ofereceu ao Senhor “todos os reinos do mundo e a glória deles” sem a cruz, somente por se prostrar diante dele e adorá-lo. O Senhor reconhece imediatamente a “armadilha” que Satanás está pondo. Ele sabe que está sendo confrontado pelo inimigo como foi no deserto. E sua reação é imediata. Ele repele aquela “sedução implícita para o pecado”. Ele não se permite sequer pensar sobre o assunto – Ah, como deveríamos rejeitar as tentações e o pecado assim! – Então ele se dirigir a Pedro e dizer-lhe: “Arreda Satanás!”. Diante do que acabamos de falar, fica claro que Jesus está na verdade se dirigindo e repelindo Satanás e não a pessoa de Pedro em si – Ele está repelindo a tudo o que em Pedro tem sido perversamente influenciado pelo príncipe do mal.

          E ele deixa isso claro quando explica que aquele amado discípulo não está cogitando nas coisas de Deus, mas nas coisas dos homens (lit.). E é esta a verdade que Pedro não alcançou naquele momento. Ele ainda não tinha entendido que no plano de Deus era necessário que o Salvador sofresse, morresse e ressuscitasse ao terceiro dia para trazer salvação ao seu povo. Ele só pensava pelo prisma humano no qual o Messias não deveria sofrer – o sofrimento não cabia em sua visão do reino. Sem o entendimento correto ele tentou dissuadir o Senhor (influenciado por Satanás) a desistir da cruz. Afinal, ninguém quer sofrer! Ninguém quer rejeição e morte! Ele não compreendia que sem cruz não haveria salvação; Que não havia redenção; Que não haveria glória. Sem saber Pedro estava pedindo sua própria condenação eterna. Pois esta é a verdade mais central do cristianismo, irmãos! Sem a cruz não haveria comunhão com Deus; seria ruína para sempre… Aquele que há tão pouco tempo foi chamado de pedra/rocha, com uma confissão tão firme que a igreja seria edificada sobre ela, agora, é chamado de “pedra de tropeço” – Veja como é possível haver ignorância espiritual até mesmo em verdadeiros crentes! Mas graças a Deus pela obra graciosa de nosso Senhor que restaura esse bem-intencionado, mas precipitado servo!

          O fato que quero chamar sua atenção em relação ao nosso tema é que a afirmação de Jesus – que provocou essa reação de Pedro – embora seja uma descrição de sua obra única, ela deve ser compartilhada – como experiência de vida – por todos nós. Todos nós devemos atentar para a verdade que o servo não está acima de seu senhor, ou seja, que o que sucede a Cristo, em certo grau, deve refletir também na vida de cada seguidor dele, na vida de cada um de nós. Se a mentalidade de Pedro [e de todo homem] é “tem misericórdia de ti mesmo”, “poupa-te a ti mesmo” – uma síntese do pensamento humano cujo “EU” é o foco. O ensino de Cristo é “sacrifica-te a ti mesmo”. Vamos ver isso no nosso segundo ponto.

2. O CHAMADO_ A EXIGÊNCIA DE IMITAÇÃO:tomar a cruz e segui-Lo:

          Vejam como a reprovação de Pedro abre a porta para as afirmações do Senhor no v.24! “Então disse Jesus a seus discípulos: Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me”. Você consegue entender o que o Senhor está afirmando aqui?! Você consegue entender como não podemos ser seguidores de Cristo sem seguirmos os seus passos para cruz?! Então, vamos avaliar essas afirmações.

Em primeiro lugar, Ele está dizendo que não somente Ele tinha que ir a Jerusalém e morrer ali, mas também que todos os que desejarem tornarem-se seus seguidores tinham que fazer o mesmo, ou seja, negar-se, tomar a sua cruz como ele afirmara que tomaria (cf. 20.19) e seguir após Ele. Não existe outro meio! Só podemos ser verdadeiros cristãos, cuja morte do Senhor é aplicada com valor real, se nos dispusermos a negarmos nós mesmos, tomarmos nossa cruz e seguirmos a Ele.

Dada a importância do que está em foco aqui (glória eterna), temos que entender bem o que é “negar a si mesmo” e “tomar a cruz”.  Entendendo isso, teremos a correta concepção do que é ser um verdadeiro cristão em sua jornada nesta terra.

“Negar a si mesmo”, em nosso texto, tem haver com uma renúncia ao velho “EU”, o “EU” em sua existência separada da graça regeneradora. Se as palavras de Pedro (no v.22) expressam essa mentalidade, podemos concluir que a pessoa que nega a si mesma é aquela que renuncia toda a confiança em tudo quanto ela mesma é por natureza e depende unicamente de Deus para sua salvação. É uma completa renúncia de sua própria justiça, bondade e/ou boas obras. É reconhecer que não há lugar para mim (como centro) na caminhada em direção à glória. É não buscar mais promover os próprios interesses, que são predominantemente egoístas (focado em si – eu, eu, eu…). Mas, é voltar-se e devotar-se completamente à causa que promove a glória de Deus em sua própria vida e na vida do próximo. O cristão verdadeiro se nega. Ele renuncia sua própria sabedoria. Renuncia confiar em suas próprias forças. Ele renuncia sua própria vontade. Ele renuncia seus desejos carnais e cobiças. E tudo isso, por quê? Porque ele tem um alvo, um objetivo… Chegar à glória do Seu Senhor!

Meus irmãos, o ensino de nosso Senhor é “Negue-se”! Seu “EU” sempre vai procurar conduzi-lo a buscar satisfação pessoal, seus interesses, suas vontades. Mas a instrução que vem do alto é diga não a isso. Negue-se totalmente, sem qualquer restrição – como disse Paulo: “Nada disponhais para a carne no tocante às suas concupiscências” (Rm 13.14). Não podemos viver como cristão, desejando a glória, mas amando as coisas que não haverá ali. Negue-se completamente, meu irmão! Se você é seguidor de Cristo, essa é a ordem dEle pra você. E tem mais: Negue-se continuamente – Lucas quando cita essa passagem diz: “Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue…” e acrescenta: “dia a dia”. A negação do “EU” que Cristo exige não é uma coisa que você faz uma única vez. Não. É uma forma de vida. A exigência é pra fazermos morrer a cada dia todas essas inclinações do “EU” que procura nos afastar do Senhor. Faça exercícios espirituais que fortaleçam você nessa luta – ore, leia as Escrituras, seja persistente em ouvir com proveito o evangelho, esteja estudando, lendo bons livros. Faça isso, meu irmão e você verá que continuamente você estará matando seu “EU”, ou seja, negando-se a si mesmo. Agora, tem mais uma coisa: Negue-se como alguém que sabe por que está se negando; negue-se como alguém que reconhece a pessoa grandiosa de Cristo e o que ele fez por você. Se você se negar assim, você perceberá que será um negar-se espontâneo. Não será forçado, mas realizado com alegria e gratidão, sem qualquer relutância. Paulo já disse aos Colossenses: “Tudo o que fizerdes, fazei-o de todo coração, como para o Senhor e não para o homem” (Cl 3.23).

Ah, irmãos! Como tem sido rebaixado o padrão que Deus colocou diante de nós! Como esse padrão condena a negligência, satisfação carnal e a vida mundana que, muitos que se declaram cristãos “inutilmente” estão buscando. Nosso Senhor nos chama a seguirmos a Ele diferentemente. Ele nos chama a segui-lo nos negando – não existe outra forma. Nosso “EU” quer fugir de Jerusalém, quer fugir dos sofrimentos, quer fugir da “vergonha” de ser chamado careta, quadrado, atrasado… quer fugir de confrontos necessários para não sermos rejeitados por aqueles que julgamos “importantes” para nós. Mas isso não é negar-se, antes é fazer a vontade do “EU”. Os que seguem a Cristo dizem “não” a tudo para glorificarem o seu Senhor e, assim, participarem da Sua glória no porvir. Esse é o chamado que somos intimados a imitar

Ainda temos que falar sobre “tomar cruz”. Isso se refere à cruz que deve ser suportada por causa da nossa união com Ele. Isso não se refere à cruz como um objeto, mas como uma experiência na alma. Sabemos que os benefícios legais da cruz são recebidos por meio do “crer”, quando a culpa é cancelada; mas as virtudes experimentais da cruz de Cristo são desfrutadas apenas quando somos confrontados, de modo prático, com Cristo “na sua morte” (Fp 3.10). É somente quando aplicamos a cruz, diariamente, ao nosso viver e regulamos nosso comportamento pelos princípios dela, que a cruz se torna eficaz sobre o poder do pecado que habita em nós. Isso é outra forma de dizer que não existe seguir a Cristo sem essa atitude – na verdade sem essas coisas: negar-se e tomar a cruz.

Irmãos, não pode haver ressurreição onde não há morte. Por isso Paulo disse: “Façais, pois morrer vossa natureza terrena”. E, em outro lugar: “Ele morreu… para que os que vivem não vivam mais para si mesmos, mas sim para aquele que por eles morreu e ressuscitou” (2Cor 5.15). Não podemos viver em novidade de vida, enquanto não levarmos “no corpo o morrer de Jesus” (2Cor 4.10).

Basta atentarmos para o nosso mestre e perceberemos que “tomar nossa cruz” fará nossa vida completamente “outra”. A cruz foi a expressão do ódio do mundo contra o nosso Salvador. E, como o discípulo não está acima do mestre, a cruz expressará o ódio do mundo contra seu povo – contra nós. Pense comigo: Cristo não veio para julgar, e sim para salvar; não veio para castigar, e sim para redimir. Ele veio ao mundo “cheio de graça e de verdade”. Sempre ministrando aos necessitados, alimentando os famintos, curando os enfermos, libertando os possessos de espíritos malignos e até ressuscitando mortos. Ele era cheio de compaixão. Ele trouxe consigo as boas-novas de grande alegria. Ele buscou os perdidos, pregou aos pobres e perdoou os pecadores. E de que modo Ele foi recebido? E que boas vindas os homens lhe ofereceram? Os homens O desprezaram e rejeitaram (Is 53.3). Ele disse: “Odiaram-me sem causa” (Jo 15.25). Os homens pediram sua morte, e não uma morte qualquer; exigiram que Ele fosse para a “cruz”! A cruz, amados, foi a manifestação do ódio do mundo contra nosso Senhor!

Agora, lembre-se que o mundo não mudou. Ele ainda continua opondo-se a Deus e a Seu Cristo. Eles estão em lados opostos. A palavra de Deus nos afirma: “Aquele, pois, que quiser ser amigo do mundo, constitui-se inimigo de Deus” (Tg 4.4). Amados, tomar a cruz e seguir Cristo é experimentar esse ódio também. Não existe meio-termo quanto a isso. É impossível andarmos com Cristo, sermos seus discípulos, termos comunhão com Ele e não nos separarmos do mundo. Seguir a Ele é partilhar de sua humilhação; é sofrer má compreensão. Tomar a cruz é ser conformado a Ele; E Ele disse que quem segue a ele deve tomar Sua cruz. Eu sei que ao afirmar isso estou indo na contramão do que nosso “EU” quer pra nós. Sei que nosso “EU” diz para sermos amigos do mundo e nos conformarmos a ele. Isso torna a vida muito mais fácil. Mas, amados, o que faremos com a palavra de Cristo: “Quer ser meu discípulo? Quer me seguir para a glória? Então, diga não pra você mesmo, sofra o ódio do mundo, abdique de uma vida focada em si e me siga”. Vocês conhecem o texto de Romanos 12.2: “não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente…”. Tomar a Cruz é seguir Cristo assim. Temos que pôr nossa confiança nEle, andarmos em seus passos (1Pe 2.21), obedecermos aos seus mandamentos movido pela gratidão pela salvação por meio dEle, prontificar-nos até mesmo a sofrer pela causa dEle. Isso é completamente contrário a viver com o olho no mundo que odeia o Senhor.

Além disso, lembre-se que a cruz representa também sofrimento e sacrifício vicário (substitutivo). Lembre-se que nosso Senhor nos chama a segui-lo nesse sentido também, afinal, Ele entregou a própria vida em favor dos outros. Assim, somos chamados a fazermos o mesmo. Em 1 João 3.16 está escrito que “devemos dar nossa vida pelos irmãos”. Somos chamados a tomar a cruz aqui também e seguir nosso mestre! Como o Senhor sempre pensou nos outros, assim também devemos fazer. Isso é, sem sombra de dúvidas, tomar nossa cruz. Nós que somos tão egoístas, pensar nos outros?! Nos doarmos pelos outros?! Buscarmos com danos próprios o bem dos outros?! Mas a palavra do Senhor é essa. “Siga-me! Negue-se! Tome sua cruz!”. Não é essa a implicação do v.25: “porquanto, quem quiser salvar a sua vida perdê-la-á; e quem perder a vida por minha causa achá-la-á”? Então, como podemos agir diferente? Como podermos trilhar outro caminho?! Até podemos, mas, com certeza, não será o caminho que conduz a glória; não será o caminho do nosso Senhor Jesus Cristo.

Olhe esse versículo de novo… quem é a pessoa que será condenada? Quem é que vai se perder na eternidade? São os que seguem a Cristo, que se negam e tomam sua cruz? Que estão crucificando seu “EU” egoísta, seguindo os passos do Mestre? Ou são aqueles que se voltam para si mesmos e para o mundo, preferindo viver de mãos dadas com os inimigos do Senhor? Irmãos, o Senhor quer que sua igreja viva! Ele quer que sua igreja se desprenda de si mesma e siga a Ele. É verdade que a cruz causa dor, machucões; ela nos obriga a fazer renúncias e nos abnegarmos… Mas é tomando-a sobre os ombros que trilharemos o caminho da vida! Por amor ao nosso Senhor que tanto nos amou, vamos proceder assim, irmãos! Vamos viver como verdadeiros cristão mesmo que nos seja necessário sofrermos extrema aflição, e se lhe for do agrado dEle, até a morte, pois serão esses que serão recompensados na consumação. Isso nos leva ao último ponto.

3. A MOTIVAÇÃO_ A RECOMPENSA DA CONSUMAÇÃO: Ele virá em glória para retribuir a todos:

          O v.24 pôs os discípulos e a nós diante de uma escolha. Agora, em sua infinita misericórdia e amor, Ele encoraja seus discípulos (nos encoraja) a fazermos a escolha certa. Ele diz no v.26: “que aproveitará ao homem se ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma? Ou que dará o homem em troca de sua alma?”. Aqui Ele faz duas perguntas retóricas (perguntas cujas respostas são óbvias). Ele quer mostrar a tolice que é ter o foco distorcido… De que servirá ao homem ter toda abundância e riquezas criadas à custa de sua alma? A resposta é clara. Nada pode se compara ao valor da vida – e você sabe que a perda que Ele tá falando aqui é a perda eterna da alma, a perda da própria vida. Será que existe alguma vantagem nisso? Claro que não, irmão! Como alguém pode negligenciar os interesses eternos por causa dos interesses terrenos que serão desfeitos/destruídos?! As coisas dessa terra são temporais, mas nossas almas têm existência eterna. Irmãos, o Senhor quer motivar seus discípulos (e a nós) a escolhermos seguir a Ele (que conduz à glória) e não vivermos o egoísmo (uma vida em função do “EU”). É uma escolha entre a vida e a morte. E o Senhor queria e quer que seus seguidores tomem a decisão correta. Noutras palavras: Não busquem possuir o mundo inteiro. Isso envolverá a perda de sua alma. Não corra atrás do que não terá proveitos duradouros. Siga a Cristo negando-se, tomando sua cruz e seguindo a Ele. Pois os que fazem isso serão recompensados.

          E pra incentivar essa escolha ele nos diz: “Porque o Filho do Homem há de vir na glória de seu Pai, com os seus anjos, e, então, retribuirá a cada um conforme as suas obras” (v.27). Que incentivo o Senhor deu a seus discípulos! Ele que já foi reconhecido por eles como o Messias (Filho do Homem é a forma que Daniel 7.13 usa para falar do Messias), afirma que embora esteja falando de sofrimento e morte, aponta que esse não é fim. Ele já disse que ressuscitaria (v.21), mas agora, fala com muito mais clareza. Como Filho do Homem, Ele receberia a recompensa do Pai. Ele que pelo sofrimento alcançaria a glória, granjearia a salvação do Seu povo. O Pai lhe comunicaria sua própria glória e lhe dará seus próprios anjos para que sejam seus acompanhantes naquele Dia. E naquele dia, Ele receberá a glória de ser o juiz de todos. E ele retribuirá a cada um seguindo as suas obras, segundo seus feitos, segundo a escolha que fez de segui-lo – por um contínuo morrer de si mesmo (negando-se e tomando sua cruz diariamente), ou por rejeita-lo para seguir uma vida em função de Si (“EU”).

          Irmãos, a entrada ou a exclusão no novo céu e na nova terra dependerá dessa escolha! Sabemos que existe uma eleição que foi feita na eternidade; sabemos que existe um decreto eterno imutável – e por isso podemos ter segurança – pois sabemos que não depende de nós. Nossa salvação dependerá de estamos ou não vestidos com a justiça de nosso Senhor Jesus Cristo, pois, fora dEle, dessa justiça que encontramos somente nEle, não há salvação (At 4.12; Jo 3.16). E isso é algo que recebemos totalmente pela graça, mediante a fé nEle (Ef 2.8). Mas, por outro lado existe nossa responsabilidade diante do chamado do evangelho. E nossa responsabilidade é apontada aqui por meio desta escolha. Por isso, não temos como não colocar isso diante dos irmãos: A cruz e o eu… A qual desses você estará assumindo?

O caminho para a glória é o caminho da cruz. Não tem outro meio de chegar lá. Mas nosso Senhor quer que façamos a escolha correta. Ele nos incentiva e motiva a isso por nos assegurar que um dia Ele irá voltar. E quando Ele voltar recompensará a todos nós que, em Seu amor e misericórdia, fomos trazidos a Ele e vivemos por meio de uma vida de negação do “EU” e de renuncia do pecado e de nós mesmos. Sendo assim, meus irmãos, vamos atender o chamado de nosso Senhor. Vamos perder hoje para ganharmos amanhã. Vamos preferir padecer com Ele, trazendo suas marcas em nossas vidas, morrendo com Ele, pois, fazendo assim, chegaremos à glória. Esse é o caminho que nosso Deus nos chama a seguir. Em breve, contemplaremos as mansões celestes e com o nosso Senhor celebraremos a vitória. Naquele dia, cada um receberá segundo suas obras, então nós receberemos muito, pois nossas obras são as obras perfeitas de nosso Senhor, obras que ele imputa a todos que seguem a Ele (como Ele nos tem chamado hoje a fazer).

Amém.