Pesquisar

Salmo 120

Sermão preparado pelo pastor Lucio Manoel, VDM

LEITURAS: Domingo 43 do Catecismo de Heidelberg

TEXTO: Salmo 120

Palavras Chaves: Nono Mandamento; Verdade; Mentira; Distorção de palavras; Fofoca; Difamação; Falso juramento


Amada Igreja do Senhor Jesus Cristo

Êxodo 20.16 trata do Nono Mandamento. Esse mandamento proíbe a mentira em suas múltiplas formas e usos e ordena a verdade em todos os casos e circunstâncias.

Podemos destacar pelo menos três razões, porque Deus nos ordena a não mentir:

Primeira: A mentira ataca o caráter santo de Deus, pois Deus é Verdade (Sl 25.5; Jo 14.6);

Segunda: A mentira corrompe e destrói a sua criatura mais excelente, o homem (Gn 3.1-4);

Terceira: A mentira é própria do Diabo e dos inimigos de Deus (Jo 8.44).

O Salmo 120 nos ensina que Somente Deus pode estabelecer a verdade. Por isso, devemos buscar a Sua ajuda para batalhar pela verdade e lutar contra a mentira.

O Salmo 120 é o primeiro dos Salmos de Degraus que vai até o Salmo 134. Salmos de Degraus é o título que aparece acima destes salmos em algumas Bíblias em Português – dependendo da versão o título destes salmos pode ser diferente.

A reunião destes salmos provavelmente servia ao propósito de ser cantados pelos israelitas, durante as peregrinações até Jerusalém, a fim de participar das grandes festas de Israel (Lv 34.23).

Os Salmos de degraus descrevem a vida do peregrino que está caminhando para a casa do Pai. Essa peregrinação é marcada por uma variedade de sentimentos e situações (Sl 23).

O Salmo 120 abre os Salmos de Degraus situando o lugar do peregrino nesse mundo. Ele se sente um estrangeiro vivendo no meio de ímpios (v.5).

Meseque era uma cidade pagã relacionada com a Assíria, bem distante de Israel (Ez 27.13). Quedar era outra cidade pagã localizada distante de Israel, na Mesopotâmia (Jr 2.10). O salmista menciona essas duas cidades pagãs para enfatizar o seu sentimento, como se fosse um estrangeiro habitando no meio de ímpios.

Os ímpios mencionados neste salmo estavam provocando grande angústia no peregrino (v.1). E o principal motivo dessa angústia era a mentira desses ímpios contra ele (v.2).

O texto não identifica a mentira proferida contra o peregrino. Mas podemos tirar algumas conclusões sobre a natureza da mentira, a partir das informações que constam nos versículos 4 e 7. Em ambos versículos a imagem da guerra se destaca.

O versículo 4 fala sobre as flechas do valente. As flechas ou lanças eram feitas zimbro. Árvore muito apropriada a produção de varas para a guerra, pois seu tronco não possuía nódulos (v.4).

A expressão brasas vivas pode se referir ao metal derretido que forrava a ponta da flecha ou a um fogo que era colocado na ponta da flecha. O metal tornava a flecha mais transpassante, e o fogo podia causar choque ou infecção grave no corpo do inimigo.

A imagem da flecha transpassante ou contaminante descreve a natureza mortal da mentira. Ela penetra mortalmente o coração da vítima.

O versículo 7 acrescenta o espírito belicoso destas pessoas que falam mentiras e afrontam o peregrino. Não querem paz, mas somente guerra.

Ainda uma coisa pode ser dito acerca da mentira que causava a angústia no peregrino. A demora em se alcançar uma solução contra a mentira serve para agravar ainda mais a angústia.

Pense na seguinte situação: Se alguém levantar uma mentira contra você, geralmente você conseguirá apagar o dardo inflamado do maligno com a verdade (Ef 6.16). Porque a verdade pacifica. A verdade restaura a ordem. A verdade liberta (Jo 8.32).

Porém, se você tenta estabelecer a verdade, mas ninguém dá ouvidos. Todos se colocam do lado da mentira. Você insiste, mas eles procuram calar a verdade. Você recorre aos que devem julgar a sua causa, mas também eles não se interessam pela verdade.

Essa situação de impotência, diante da força da mentira e o prolongamento da situação (v.7), angustia o coração do peregrino. É uma situação terrível! O Salmo 11 apresenta uma situação parecida, na qual os pilares da justiça são comprometidos. Então lemos no v.3 “Ora, destruídos os fundamentos, que poderá fazer o justo?

A única solução é buscar a Deus e esperar Nele! É isso que o peregrino faz. Ele clama ao SENHOR (v.1).

A palavra SENHOR tem um importante significado nesse contexto.

SENHOR é o nome especial de Deus. Às vezes traduzido em nossas Bíblias por Jeová ou Yahweh. Este é o nome com o qual Deus se revelou a Moisés como o Deus da aliança. O Deus que é fiel e não abandona o seu povo nem as suas promessas (Ex 6.2,3).

O peregrino recorre ao SENHOR, porque ele sabe que somente o SENHOR pode estabelecer a verdade. Quando tudo está dominado pela mentira, só resta ao crente confiar no SENHOR.

Deus é o SENHOR da verdade. Ele é o único que conhece o coração dos homens. Ele testemunha contra o mentiroso e favorece o fiel. Os filhos de Deus podem ter certeza que o Senhor dos senhores e Rei dos reis não tardará a castigar os mentirosos e a recompensar os amantes da verdade (Ap 22.15).

Em resumo

Os israelitas crentes do Antigo Testamento se sentiam como estrangeiros, mesmo habitando em Canaã, a terra da promessa. Eles se sentiam como peregrinos no meio de ímpios.

Por isso, em cada viagem que faziam a Jerusalém, para participar das festas solenes, aprendiam que era necessário deixar o seu lugar no meio dos ímpios para desfrutar de consolo na casa do Pai.

Os peregrinos repetiam essas viagens esperando pelo dia quando não teriam mais que deixar o conforto da casa do Pai e conviver com ímpios.

Aplicando a mensagem

Os crentes em Jesus Cristo também são descritos como peregrinos em viagem à casa do Pai (1Pe 1.3-12). Os crentes provam da presença especial do Pai quando deixam suas casas e se reúnem para os cultos dominicais. O culto é um momento especial no qual somente Deus e o seu povo tem lugar. Por isso, os crentes esperam pelo dia quando a esse momento se tornará eterno, na vinda de Cristo (Ap 21;22).

Mas, durante a peregrinação da igreja neste mundo, ainda temos de enfrentar a mentira dos ímpios e todo tipo de sofrimento. Apesar disso, podemos confiar que sempre podemos encontrar consolo perto do Senhor.

O nosso Salvador Jesus sofreu as mentiras dos ímpios para nos beneficiar. Ele sabe o que é ter o coração traspassado pelas setas dos valentes. Jesus foi golpeado na alma, não apenas pelas mentiras dos de fora de Israel, mas até mesmo pelas mentiras dos seus próprios irmãos (Mt 26.60). O Salvador foi condenado injustamente. O justo pelos injustos. Ele sofreu a mentira por vocês, para que vocês vivam na verdade.

Por isso, quando vocês sofrem a mentira dos ímpios, saibam que são bem-aventurados (Mt 5.11). A mentira dos ímpios são testemunhos poderosos da fidelidade de vocês. Quanto a estes ímpios mentirosos, porém, tenham por certo que Deus os destruirá no dia da sua vinda (2Ts 3-12).

Chamado à verdade

A mentira é destruidora. Ela pode acabar com a vida de uma pessoa. Ela enche de angústia o coração daqueles que querem manter a verdade. Por isso, devemos detestar toda forma de mentira.

O Catecismo de Heidelberg explica algumas formas de mentiras que são proibidas no Nono Mandamento (P&R 112).

A Bíblia proíbe o falso testemunho que é falar em juízo algo que não está de acordo com a realidade. Jesus passou por essa situação, quando falsas testemunhas tentaram incriminá-Lo (Pv 19.5; Mt 26.60).

A Bíblia também proíbe a distorção que é a interpretação errada das palavras de alguém, propositadamente. Temos o exemplo claro da serpente que distorceu as palavras de Deus para fazer Eva pensar que Deus a estava privando das mais excelentes bênçãos do Éden (Gn 3.1).

A Bíblia proíbe ainda a fofoca que é a disseminação de informação negativa acerca de alguém. Mesmo se não há uma intenção perversa, a fofoca, no mínimo, não se preocupa com o dano que pode causar a outras pessoas (Pv 11.13).

A Bíblia proíbe a difamação (calúnia) que é o uso de uma informação com o propósito de prejudicar alguém Como as difamações que Jesus prometeu usar para o bem de vocês (Mt 5.11).

A última coisa que o Catecismo menciona é a condenação antecipada ou juízo temerário que é a emissão de juízo sobre alguém, sem ouvi-lo ou sem considerar o que a pessoa tem a dizer em sua defesa. Essa situação está bem perto daquela que angustiava o peregrino do Salmo 120.

Tenham muito cuidado com a natureza caída de vocês. Ela é violenta. E ela vai manifestar sua violência contra Deus e contra o próximo de muitas maneiras, também por meio da mentira. Seja uma mentira grande ou uma mentira pequena. Os que toleram as pequenas mentiras, não tardarão em recorrer às grandes mentiras.

Quem ama a mentira é o pai da mentira, o Diabo. Ele nunca se firmou na verdade (Jo 8.44). Ele usa a mentira para atacar a Deus e ao homem criado a sua imagem e semelhança. Ele também usa a mentira para corromper o homem de dentro para fora e para levar o homem a atacar e destruir o seu semelhante.

Por isso você deve se esforçar para “repudiar toda mentira e engano, obras próprias do diabo”, mas “amar a verdade, dizê-la e confessá-la com honestidade, e fazer tudo o que puder para defender e promover a honra e a reputação do próximo”.

E quando você cair em uma mentira, lamente-a profundamente e peça a Deus que lhe conceda força e graça para vencer esse pecado terrível. Considere o dano que a mentira pode causar a outra pessoa, seja um pequeno dano ou um sofrimento angustiante, como o do peregrino do Salmo 120. Se necessário, sofra os danos você mesmo, mas não cause sofrimento a ninguém com suas mentiras (Salmo 15.4). Nunca se coloque ao lado da mentira.

E se você for vítima de mentiras e estiver sofrendo por causa delas, lute contra a mentira com a verdade. E se o inferno estiver contra você, clame por Cristo que é um juiz justo e fiel. Quando nosso Salvador vier para julgar esse mundo, Ele cobrará cada palavra mentirosa que tenha sido proferida contra Ele e contra a sua igreja. E assim a verdade se estabelecerá para sempre.

Lembre-se, você é chamado a promover a glória de Deus com a verdade e a lutar contra toda forma de mentira. Amém.