Sermão preparado pelo Pr. Lúcio Manoel
Leitura: Romanos 3.9-20
Texto: Gênesis 01.26-31; Dia do Senhor 03
Amada Igreja do Senhor Jesus Cristo
O Dia do Senhor 2 explica que a Lei funciona como fonte de conhecimento da pecaminosidade humana. Diante do espelho da Lei ninguém se mostra tão bonito quanto parece ser. O homem é um pecador que não pode fazer nada para fugir da condenação.
Mas se todo mundo é pecador, as perguntas que se seguem são:
- Os homens foram criados já como são agora, pecadores?
- Se não é assim, como os homens se tornaram pecadores?
- Os homens são tão pecadores que não conseguem fazer nada de bom?
A pregação desta manhã vai tentar explicar estas coisas: “A fonte da profunda corrupção do homem, é o próprio homem”
Não é fácil para se conceber o que é uma pessoa em seu estado original, uma pessoa boa de verdade, porque não existe no mundo um exemplar de pessoa perfeitamente boa para fazer essa constatação. O melhor que o mundo tem como exemplo de pessoas boas são os mártires da igreja que foram elevados ao status de santos por sua posição na igreja, ou por suas virtudes, ou por causa de suas boas obras.
Além dos mártires da igreja, o mundo tem elegido seus próprios santos, por razões mais particulares. Pessoas que são tomadas como exemplo de piedade na família, outras que são tomadas como exemplo de honestidade na política, outras que são tomadas como exemplo de caridade na sociedade. São muitos os santos deste mundo. Pessoas tomadas como referência de ser um humano bom.
Mas a Bíblia diz coisa bem diferente do mundo. Vamos começar com o que a Bíblia relata sobre a criação das primeiras pessoas boas do mundo e o que aconteceu com elas. Vamos pensar um pouco sobre Adão e Eva. Eles foram criados bons, à imagem de Deus. Eles refletiam o caráter justo e santo de Deus (Gn 1.26-31).
A Bíblia não fornece um vasto relato dos atos de bondade que o primeiro casal realizou enquanto habitava o jardim do Édem. O que temos são poucos registros das coisas boas que Adão e Eva fizeram antes de se precipitarem no pecado.
Antes da queda, Adão e Eva compreendiam muito bem qual era a vontade de Deus para ele. Eles cumpriam o mandado de Deus para dominar sobre todas as criaturas, como regente da criação. O homem fazia com que as criaturas também cumprissem seus papéis como seres criados por Deus. E eles mesmos, como o primeiro casal criados pelo Senhor, Amavam a Deus e O glorificavam com toda sua vida. Eles estavam prontos para encher a terra de pessoas boas, de seres humanos que preservassem a imagem de Deus.
Mas isso não aconteceu. Adão e Eva não permaneceram neste estado de obediência em que foram criados. O casal que fora criado bom, tornou-se mau. Eles transgrediram o mandamento de Deus e comeram do fruto da árvore da qual Deus havia dito que eles não comecem. Caíram em transgressão e corromperam sua natureza humana.
Eles perderam os dons preciosos da justiça e da santidade. Eles não manifestavam mais a imagem de Deus. A justiça foi abandonada; a obediência deu lugar à rebelião; a ganância roubava a glória que eles deviam dar a Deus. O homem que fora criado bom, tornou-se mau.
Os filhos que Adão e Eva geraram eram como eles, pecadores. Gênesis 5 diz que Adão gerou um filho conforme a sua semelhança, ou seja, à semelhança de um pecador.
Então temos duas verdades aqui que precisamos manter, contra o ensino deste mundo caído. Primeira: foi Deus quem criou o homem, diretamente, não foi um processo evolutivo que gerou o homem. Segundo: Deus criou o homem bom e à sua imagem, isto é, em verdadeira justiça e santidade. O homem, por sua vez, desprezou essa condição e se lançou no pecado.
Notem que o Catecismo explica o significado do homem ter sido criado “bom, e à imagem de Deus”. O Catecismo não está inventando um significado para esta frase. Ele está repetindo o ensino da Palavra de Deus.
Em Efésios 4.22-24, a Bíblia ensina que a vida presente do velho homem é marcada pelo pecado, enquanto que a vida do novo homem, que é a ressurreição com Cristo do homem que estava morto em pecado, experimenta características que se opõem ao pecado: justiça, retidão (santidade), conhecimento de Deus.
Essas são marcas do viver do novo homem e era assim que Adão e Eva viviam no Éden. Eles podiam viver com Deus, desfrutá-lo em profundo amor, conhecê-lo mais e mais, obedecê-lo em tudo. Deus era corretamente adorado e glorificado na vida do primeiro casal. Até que veio o pecado e estragou este belo relacionamento.
Por isso, todos nós, como descendentes diretos de Adão e Eva, somos o que somos. Todos nós somos por natureza a imagem de nossos pais. Somos todos pecadores desde a concepção e nascimento (Sl 51.5; 58.3). Somos todos pessoas más.
Mas esse conhecimento da Palavra de Deus não é claro para todas as pessoas nem é aceito por todas as pessoas. As vezes, até mesmos pessoas que se dizem cristãs, recusam esse claro ensino da Escritura.
E mesmo que se admita que os homens são pecadores, nem todos admitem que as pessoas são totalmente más em tudo que fazem. Por isso ouvimos no início desta pregação que os homens elegem seus santos, contrastando suas vidas de piedade com as vidas pervertidas de outras pessoas.
Comparando pessoa com pessoa, sempre se chegará a conclusão que umas pessoas são mais corretas que outras e algumas pessoas são mais erradas que outras. Assim, quando uma pessoa se destaca por suas virtudes não falta quem a exalte à categoria de santo ou de pessoa boa que merece estar no céu.
(Por isso, existe a prática dominical das Igrejas Reformadas do Brasil de ler os Dez Mandamentos no início do culto da manhã, a fim de comparar as vidas dos crentes com a Lei de Deus – Domingo 2. A Lei de Deus reflete a perfeição que Deus exige do seu povo)
Mas o Catecismo não está sugerindo que nenhuma das ações dos homens se mostram externamente boas. Isso realmente acontece. Algumas pessoas devotam toda sua vida à prática da caridade. Abrem mão de suas vidas confortáveis para sofrer ao lado de doentes, perseguidos, famintos, etc. Pessoas podem fazer coisas boas.
Mas tem duas coisas que vocês precisam entender sobre as coisas boas que as pessoas fazem:
- Todas as ações boas dos homens estão contaminadas pelo pecado. Existe um defeito na fonte – Uma caixa d’água contaminada ainda oferece água que mata a sede, mas não oferece vida senão morte.
- As boas ações dos homens não servem à sua salvação. A salvação de pecadores está baseada, não nas boas ações “contaminadas” dos homens, mas na obra perfeita de Cristo consumada na cruz.
Você pode perceber que o Catecismo sugere essa corrupção do homem que estraga tudo que ele faz. Observe o texto bíblico no qual o Catecismo se baseia para afirmar que “não conseguimos fazer bem algum” (P&R 8). LER Gn 6.5 – mau, o tempo todo, todos os desígnios, do coração. A fonte está contaminada. Qualquer que seja a coisa boa que proceda do homem está contaminada com o pecado.
Ao velho homem, morto em pecados, é impossível fazer qualquer coisa que seja genuinamente boa. Não está no homem o poder para agir com justiça e retidão; não está no homem o aprender sobre o caráter de Deus e viver de acordo com este caráter.
Voltando para Efésios 4.22 “e vos revistais do novo homem, que é de acordo com a vontade de Deus criado em justiça e retidão procedentes da verdade”. Notem que o novo homem é segundo Deus, não segundo o homem.
A Palavra de Deus diz isso claramente também no Evangelho de João (Jo 1.13):
“Os quais não nasceram do sangue, nem da vontade do homem, mas da vontade de Deus”.
Queridos irmãos e irmãs, não se confundam com o mundo pecador. Não confie na bondade apresentada pelos pecadores. Suas virtudes podem ter utilidades para a vida presente. Mas a salvação não pode ser alcançada pelas boas ações dos homens.
Deus criou o homem bom e à sua imagem, mas o homem se lançou no pecado. E por causa disso, ele não consegue fazer nenhuma boa ação que não esteja contaminada pelo pecado. Essas boas ações não têm nenhuma utilidade para a salvação.
A situação de pecado dos homens não é culpa de Deus, mas de sua própria corrupção. Não culpe Deus por causa dos seus sofrimentos. Não culpe a Deus por causa das coisas erradas que acontecem em sua vida. Assuma sua própria culpa.
Apesar dos pecados dos homens. Há esperança. Há salvação. Mas a salvação não está naquilo que as pessoas podem fazer, mas naquilo que Deus pode fazer. Deus pode fazer um novo homem. É assim que o Catecismo termina o Dia do Senhor 3. Uma mensagem de esperança. A luz chega às trevas. O evangelho da salvação é anunciado ao pecador perdido. Amém.